Texto de Formação 02: O Capitalismo (superestrutura)

Texto de Formação 02:
O Capitalismo (superestrutura)


ANT
Associação Nacional dos Trabalhadores

A palavra capitalismo também pode ser compreendida como o conjunto das relações sociais que caracterizam a sociedade moderna, ou seja, como sociedade capitalista. No modo de produção capitalista, as duas classes sociais fundamentais saão constituídas (burguesia e proletariado) e nas demais relações sociais, nos modos de produção subordinados, formas sociais de reprodução do capitalismo, temos outras classes sociais. Para compreender a sociedade moderna, é fundamental comprrender o modo de produção capitalista, do qual o texto anterior abordou de forma muito introdutória e breve. Pressupondo a leitura do texto de formação 01, destacamos agora a análise da sociedade capitalista.

A sociedade capitalista é constituída pelo modo de produção capitalista, pelas relações de distribuição (parte do modo de produção, mas que ocorre no espaço da circulação das mercadorias) pelos modos de produção subordinados e pelas formas sociais de regularização das relações sociais (Estado, cultura, direito, instituições, etc.). Os modos de produção subordinados são formas não-capitalistas de produção, como o modo de produção camponês, artesão, cooperativo, etc. Eles constituem outras classes sociais, como a do camponeses, artesãos, cooperados. As formas sociais (também chamadas de “superestrutura”) já não são formas de produção material e sim relações de reprodução, no plano do Estado, cultura (em suas múltiplas manifestações), direito, instituições, etc. e constituem novas classes sociais, como burocratas, intelectuais, subalternos, entre outros. Além disso, existem aqueles que estão na margem da divisão social do trabalho, como os desempregados, subempregados, mendigos, etc. formando a classe lumpemproletária.

O modo de produção capitalista transforma todos os bens materiais em mercadorias e mercantiliza toda a sociedade. Tudo para a ser comprado e vendido, incluindo a cultura, a política, a tecnologia, o direito, etc. Da mesma forma, tudo é burocratizado e passa a ser dirigido por uma classe burocrática. Isso cria um mundo competitivo, onde quase todos querem poder e riqueza. Assim, a sociedade capitalista é constituída por uma ampla divisão social do trabalho (esses modos de produção, formas sociais, são expressões de tal divisão). Cada instância de atividade especializada e fixa da sociedade estabelecida pela divisão social do trabalho visa reproduzir o as relações de produção capitalista. O aparato estatal e todas as burocracias visam manter o controle social, sendo que o direito e os regimentos compõem outra instância que objetiva, ao lado da produção cultural em geral, a legitimação, justificação e conquista de adesão para a sociedade capitalista, através de ideologias, valores, leis, arte, etc.

Esse processo é perpassado pelo modo de produção capitalista, através da mercantilização, burocratização e competição social, sendo que, como no capitalismo tudo é mercantilizado, tais instâncias necessitam de dinheiro para existir e agir. Assim, em tais formas sociais, se constituem classes sociais assalariadas improdutivas. A renda dessas classes improdutivas é oriunda, principalmente, do mais-valor global. A produção do mais-valor ocorre nas unidades de produção (fábricas, minas, empresas agrícolas, construção civil), mas sua realização ocorre no mercado, ou seja, nas relações de distribuição capitalistas. Ou seja, somente quando a mercadoria é vendida no mercado é que o mais-valor se realiza, é quando o capitalista se apropria, efetivamente, do mais-valor.

O Estado drena parte do mais-valor global e a utiliza para sua própria reprodução (os gastos estatais com sua imensa burocracia, suas instituições) e reprodução do capitalismo (políticas estatais, infraestrutura, etc.), contratando um conjunto enorme de pessoas (burocratas, intelectuais, subalternos, etc.) e através do controle social, produção cultural e repressão, objetivando a reprodução do capitalismo e o impedimento da transformação social. O Estado visa impedir crises financeiras, queda da taxa de lucro e outros elementos prejudiciais ao desenvolvimento capitalista.
A sociedade civil é submetida à hegemonia burguesa. A fonte dessa hegemonia está no poder financeiro da burguesia, no aparato estatal, e nas duas classes auxiliares da burguesia: a burocracia (voltada para o controle social) e a intelectualidade (voltada para a produção cultural). Nesse sentido, as ideias dominantes são as ideias da classe dominante. Uma sociabilidade capitalista comandada pela burocratização, mercantilização e competição social passa a dominar e, ao lado da hegemonia burguesa, promove a existência de uma mentalidade burguesa, que introjeta tal sociabilidade e a reproduz e reforça.


Em síntese, é possível dizer que as formas sociais (“superestrutura”) derivadas do modo de produção capitalista, são relações de reprodução deste, criando as condições para a manutenção da dominação burguesa no processo de produção e continuidade da extração de mais-valor, da exploração. No entanto, não existe apenas dominação e reprodução, existe resistência e luta, o que será abordado no próximo texto.

MANIFESTO DA ANT

MANIFESTO DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS TRABALHADORES

Os integrantes atuais da Associação Nacional dos Trabalhadores, em reunião realizada dia 05/09/2015, vem declarar publicamente através deste manifesto os seus princípios, as suas propostas/reivindicações e seu projeto político e social.

Consideramos que a história das sociedades humanas, desde o surgimento das classes sociais, é a história da luta de classes. Essa luta de classes, que sempre promoveu a substituição de uma classe dominante por outra, gerou a sociedade capitalista, a atual sociedade de classes. A sociedade capitalista, contudo, trouxe a possibilidade e tendência de uma transformação radical do conjunto das relações sociais e a superação da própria sociedade de classes. Isto se dá, devido ao grande desenvolvimento das forças produtivas no capitalismo, o que gera uma produção de riqueza como nunca antes vista na história das sociedades humanas. Esta é a primeira condição para a superação do modo capitalista de produção. Outra condição são as crises que o próprio capitalismo produz. Estas crises são contradições que os capitalistas e o Estado não podem evitar. Contudo, estas crises e esta abundante produção de riquezas não conduzem, por si mesmas, ao fim da sociedade capitalista. É necessário um sujeito, uma classe social que se contraponha ao atual estado de coisas, bem como aponte concretamente a possibilidade de edificação de novas relações sociais. Tal sujeito, tal classe social já existe. No interior da sociedade capitalista, como produto mesmo do desenvolvimento desta sociedade, desenvolve-se uma classe social que tem condições de conduzir estas crises e contradições do capitalismo a um processo radical de construção de uma nova forma de sociedade, esta classe é o proletariado. Assim, pela primeira vez na história emerge a possibilidade de que uma classe social, através da aliança com outras classes submetidas ao capitalismo, bem como grupos e indivíduos descontentes com tal sociedade, ao invés de se tornar nova classe dominante, abolir as classes sociais em geral, gerando uma sociedade sem classes sociais, a sociedade autogerida, fundada na autogestão generalizada. O fim da luta de classes e da sociedade classista passa pela luta proletária e do conjunto dos trabalhadores no sentido de abolir a exploração e dominação, gerando uma sociedade fundada na igualdade e na liberdade.

O capitalismo é marcado por um intenso processo de exploração dos trabalhadores. O processo de produção de riquezas sob o capitalismo é marcado pela produção de mais-valor, que suga o sangue dos proletários, bem como outras formas secundárias de exploração e dominação. Assim, a produção de riquezas no capitalismo, devido ao fato de ser feita sob regime de exploração, gera contraditoriamente miséria, fome, precarização, crises, violência, entre diversos outros males sociais. O Estado assume um papel fundamental nesse processo. Ao se dizer “público” e “representante da nação”, apenas esconde que é um aparato da classe dominante, dos capitalistas, cuja função é garantir a reprodução do capitalismo. A existência de um aparato estatal, com seus meios de repressão, cooptação, controle, sobre a sociedade, apenas revela as contradições de classes que o faz necessário para a classe dominante. A classe capitalista possui a sua associação para fazer valer seus interesses de classe, que é o aparato estatal. É necessário, pois, contrapor à associação dos capitalistas, o Estado, uma Associação de Trabalhadores.

O capitalismo se mantém graças ao poder financeiro, concentrado e centralizado, da classe capitalista, ao poder estatal, e a um amplo conjunto de outras formas sociais de reprodução do mesmo no plano cultural (ideologias, representações, valores, etc.), poder jurídico, político, entre outros. Assim, a exploração e a dominação se generalizam na sociedade e os trabalhadores em piores condições são submetidos ao desemprego, subemprego, precarização, entre outras possibilidades. Aqueles, em condições mais estáveis, estão submetidos ao trabalho alienado, no qual se tornam seres controlados completamente durante oito horas diárias ou mais, se mortificando e se destruindo apenas para garantir os meios de sobrevivência, que no capitalismo são mercadorias que só podem ser adquiridas através do dinheiro. Tudo é transformado em mercadoria e isso torna a busca do dinheiro algo necessário para se garantir a aquisição dos meios para a sobrevivência, o prazer, o lazer, a reprodução geral da vida. No entanto, a busca do dinheiro acaba sendo o objetivo ao invés de meio, pois é em torno de sua busca que passa a girar a vida das pessoas.

Os trabalhadores são não apenas explorados, controlados, submetidos ao capital e à rotina do trabalho alienado, mas também são constrangidos a não ter liberdade e realização nem fora do trabalho, pois os meios oligopolistas de comunicação (TV, rádio, etc.) produzem lixo cultural para vender como mercadoria e retirar o avanço da consciência e organização dos trabalhadores. O cansaço e outros efeitos do trabalho alienado, junto com a ação estatal e desses meios de comunicação geram um processo de impedimento da autoformação intelectual dos trabalhadores, o que é reforçado por escolas e instituições de ensino que reproduzem as ideias e ideologias dominantes e a baixa qualidade cultural, que apontam para mascarar a exploração e a dominação.

O modo de produção capitalista é marcado pela luta de classes, sendo que a classe capitalista explora e domina o proletariado no processo de produção e ao nível geral da sociedade, o conjunto dos demais trabalhadores. Ele se fundamenta na extração de mais-valor, o trabalho excedente dos proletários, que gera o capital e sustenta a existência da classe capitalista. Isso possibilita a acumulação de capital, concentração e centralização do mesmo, gerando grandes oligopólios nacionais e transnacionais. O capitalismo se mundializou e mantém esse processo de reprodução. Mas ele é marcado por diversas contradições, tal como a luta operária e a tendência de queda de lucro, que geram diversas crises, desde as financeiras até outras derivadas de suas contradições, incluindo as que abrem possibilidade de uma revolução social.

Nos momentos de destabilização e crise, os mais atingidos são os trabalhadores. O aparato estatal intervém de acordo com os interesses da classe capitalista, diminuindo seus investimentos sociais realizados para amenizar as lutas dos trabalhadores, realizando um processo crescente de repressão e violência, gestando formas de intensificação da exploração. Nesses momentos, aumenta o desemprego, os salários são reduzidos, a inflação aumenta, entre diversos outros elementos. Nesse contexto, a luta dos trabalhadores tende a se radicalizar, o poder capitalista tende a se enfraquecer.

Tendo em vista todo esse processo, torna-se fundamental que os trabalhadores consigam superar os obstáculos para que atue com força política no sentido de enfrentar o capital e constituir uma nova sociedade. Além dos elementos acima elencados que servem para a reprodução do capitalismo, há um outro elemento que é fundamental para explicar o motivo pelo qual os trabalhadores não realizam constantes tentativas de revolução social. Pode-se apontar como razão para isto, a divisão e desunião dos trabalhadores. O capital vive gerando formas de divisão e desunião dos trabalhadores, via meios de comunicação, produção cultural, controle, legislação, conflitos internos, etc. As ideologias e concepções burguesas pregam o individualismo, o hedonismo, a primazia do interesse pessoal, o utilitarismo, o pragmatismo, entre outras formas de desunir os trabalhadores. Os trabalhadores são cada vez mais separados uns dos outros, como indivíduos atomizados (seja diante da TV ou do computador, para usar apenas dois exemplos de isolamento). A união fraterna, a solidariedade, a luta por um mundo radicalmente diferente, é constantemente atacada por iniciativas da classe capitalista que busca a todo custo evitar a associação dos trabalhadores.

A classe capitalista tem a sua associação, o aparato estatal, e os trabalhadores estão desprovidos de uma associação que faça valer os seus interesses de classe. Historicamente, os trabalhadores geraram formas de organização coletiva. No século 19, a luta dos trabalhadores gerou os partidos políticos e os sindicatos que diziam “representá-los”. Contudo, tão logo essas organizações foram aceitas e reconhecidas legalmente pelo aparato estatal, foram burocratizadas e passaram e ter interesses próprios, distintos e opostos aos interesses dos trabalhadores. Ao invés de organizações dos trabalhadores, tornaram-se organizações da burocracia, aliada da classe capitalista. É por isso que a luta dos trabalhadores hoje é uma lua contra o capital e o Estado, mas também contra todas as organizações burocráticas, inclusive partidos e sindicatos.

Nesse processo, o proletariado na sua luta criou novas formas de organização, tais como coletivos de ajuda mútua, comitês de greves, comissões diversas, etc. Essas formas iniciais de auto-organização acabam gerando outras formas mais complexas quando há avanço na luta dos trabalhadores, gerando conselhos de fábrica, conselhos de bairros, conselhos de trabalhadores. As tentativas de revoluções, desde o início do século 20 até os dias de hoje, sempre foram marcadas pela constituição de conselhos operários como forma de auto-organização revolucionária do proletariado. Nesse sentido, os conselhos operários são a forma de auto-organização que emerge nos momentos revolucionários e que se tornam organismos de autogestão das empresas, abolindo o capital (no âmbito jurídico, a propriedade privada) e se reunindo em grandes associações de trabalhadores que passam a gerir não somente as fábricas e empresas, mas o território e a sociedade como um todo. Porém, as tentativas de revolução proletária foram variadas e muitas não ultrapassaram o nível da organização no local de trabalho. Por isso não geraram a nova sociedade. O elemento fundamental é garantir a formação de conselhos e auto-organização por local de trabalho e moradia e sua articulação e generalização, como foi esboçado em algumas experiências históricas.

Esse processo é dificultado não apenas pela ação da classe capitalista e do Estado e seus diversos meios e aparatos, mas também pelas dificuldades dos trabalhadores de perceberem esse processo graças ao desconhecimento das experiências históricas, bem como a ação burocrática de partidos e sindicatos que tentam, a todo custo, combater a auto-organização dos trabalhadores, pois eles sempre querem dirigir os trabalhadores e retirar seu ímpeto revolucionário para reproduzir o capitalismo e seus interesses no interior do mesmo. Os trabalhadores devem se preparar para a luta pela transformação social e entender que tal luta já forma os embriões de organização da futura sociedade e que precisam pensar e organizar no sentido de conseguir não somente superar o capital, o estado e as organizações burocráticas, mas também gerir a sociedade em seu conjunto.

Assim, dois elementos são fundamentais nesse processo: consciência e organização. A questão da consciência remete para o processo de formação intelectual e crítica, que se dá nas lutas e nas leituras, reflexões, debates, criando processos formativos de preparação para a ação de transformação social e de autogestão da sociedade. A questão da organização remete para o processo de criação de formas de auto-organização para a luta e para a gestão da futura sociedade autogerida. Esses elementos são complementares, pois o processo de criação e existência de formas de auto-organização são processos que em si mesmos já contribuem com experiências e reflexões, bem como a formação intelectual traz elementos importantes para a constituição e existência de tais formas. No entanto, é necessária uma ampla formação intelectual para fortalecer a luta, impedir desvios, enfraquecimento, divisões, etc.

Desta forma, a existência de uma associação dos trabalhadores, obstaculizada pela burguesia, é uma necessidade e parte desse processo de luta pela transformação social. Uma associação dos trabalhadores é fundamental para disseminar a formação intelectual e incentivar a criação de formas de auto-organização na sociedade e para contribuir com sua articulação e generalização. As lutas espontâneas apontam para esse processo, mas a classe capitalista e a própria dinâmica da sociedade atual acaba impedindo essas experiências de se consolidarem e avançarem no sentido de apontar para a transformação social. Assim, é fundamental ampliar a formação intelectual para que as experiências de lutas ganhem maior reflexão e gerar um processo cumulativo que fortaleça as lutas futuras.

Tendo em vista tudo isso, a Associação Nacional dos Trabalhadores (ANT) assume a tarefa de esboçar essa forma de associação geral dos trabalhadores na sociedade brasileira. Portanto, a ANT não é uma entidade sindical e nem “representativa”, no sentido usual do termo, dos trabalhadores. Muito menos um partido político. A ANT é uma associação que é expressão política e órgão de luta do proletariado e do conjunto dos trabalhadores e é composta não por todo e qualquer trabalhador, mas sim pelos trabalhadores mais conscientes, organizados e combativos, que perceberam a necessidade de se associarem para realizar os seus objetivos, fundamentalmente a transformação radical e total da sociedade, a emancipação humana através da emancipação dos trabalhadores, o que significa a constituição de uma sociedade autogerida. Nesse sentido, ela é um instrumento de luta dos trabalhadores em geral através dos trabalhadores aglutinados no seu interior.

Aqui é preciso delimitar o que significa o termo “trabalhadores”. A revolução social é produto das lutas operárias, o que remete à classe operária (proletariado). Essa é a classe que produz mais-valor, trabalho excedente, que é apropriado pela classe capitalista, numa relação de exploração. Não existe forma de realizar transformação social sem alterar as relações de produção, ou seja, o processo de produção de bens materiais necessários para a sobrevivência humana. O proletariado é, portanto, a classe revolucionária de nossa época, pois está no coração das relações de produção capitalistas e sua auto-organização no local de trabalho é o que pode realizar a ruptura com o modo de produção capitalista. No entanto, a classe capitalista realiza um conjunto de estratégias para impedir que isso ocorra e para separar o proletariado do resto da população, bem como fragmentar, diminuir, dividir, enfraquecer o proletariado.

A revolução proletária abole o capital e o próprio proletariado, que deixa de existir enquanto classe social de assalariados produtores de mais-valor, e também todas as outras classes sociais, bem como os demais trabalhadores do comércio, serviços, instituições estatais, agrícolas, etc. Esses trabalhadores, entretanto, não estão inseridos nos locais de trabalho onde se realiza a produção dos bens materiais necessários para a sobrevivência humana. Por isso não podem concretizar a autogestão nas fábricas e empresas em que ocorre a produção material. Eles precisam, nesse caso, se aliar ao proletariado e contribuir com que esse efetive a luta pela autogestão nas fábricas e empresas e produção de bens materiais e, ao mesmo tempo, criar formas de auto-organização em seus locais de trabalho e moradia. O proletariado não vai autogerir a sociedade como um todo sozinho. Mesmo havendo uma autogestão generalizada nas fábricas e empresas capitalistas, os trabalhadores de outras empresas são necessários para a autogestão social. O transporte coletivo, por exemplo, não será realizado pelos proletários e sim, inicialmente, pelos trabalhadores envolvidos nesse serviço social, que devem se auto-organizar e se aliar ao proletariado no sentido de generalizar a autogestão e abolir as divisões de classes, inclusive entre esses dois (e diversos outros) setores das classes trabalhadoras.
No processo de revolução social, o novo nasce da superação do velho, mas as marcas da divisão social do trabalho e da especialização não desaparecem da noite para o dia e por isso as habilidades, experiências, formação, dos indivíduos são necessárias até que as novas experiências, autoformação, entre outros processos, possibilitem o fim completo da divisão social do trabalho. Assim, o saber técnico, a experiência acumulada com determinadas atividades exercidas pelos trabalhadores são fundamentais em todos os setores da divisão social do trabalho para que seja possível a autogestão social e a própria abolição da especialização.

A partir dessas considerações, destacamos dois elementos fundamentais: a necessidade da hegemonia proletária e a necessidade da união de todos os trabalhadores. A hegemonia proletária não significa que indivíduos ou grupos proletários governem ou dominem os demais trabalhadores. Significa, tão-somente, que se reconhece o papel fundamental do proletariado no processo revolucionário e a necessidade de sua auto-organização e autogestão nos locais de trabalho, ao lado do reconhecimento da necessidade de abolição do capitalismo e instituição da autogestão social, gerando o fim da divisão de classes, incluindo o próprio proletariado, sendo que os indivíduos desta classe passam a ser produtores associados com (e como) todos os demais. Significa, também, que a teoria que expressa o movimento revolucionário do proletariado (desde Marx, passando pelos comunistas conselhistas até chegar aos seus continuadores contemporâneos) é a linha teórica, intelectual e formativa que é adequada a tal hegemonia. A união de todos os trabalhadores significa que, além dos proletários, os demais trabalhadores se associam para lutar pela transformação social e, em caso de sua efetivação, para gerir a nova sociedade.

É preciso, no entanto, deixar claro outro elemento fundamental. O termo “trabalhadores”, aqui, é utilizado em sentido amplo, incluindo todos os indivíduos que compartilham a hegemonia proletária. Assim, todos os assalariados, trabalhadores desempregados, técnicos e intelectuais, desde que compartilhando tal hegemonia, são considerados trabalhadores e possuem um papel estratégico tanto na luta pela transformação social quanto, no momento em que isso ocorrer, no processo de autogestão da futura sociedade. Assim, “trabalhadores” aqui são todos aqueles que se identificam com a causa proletária e autogestionária. Logo, o termo engloba os setores mais combativos, conscientes e organizados do conjunto dos trabalhadores.

Nesse sentido, são objetivos da ANT:

1)      Abolição do capital e todas as formas de propriedade privada de meios de produção, gerando sua socialização e autogestão pelo conjunto da população, os produtores livremente associados.

2)      Abolição do aparato estatal e as funções do Estado que são necessidades sociais passam a ser autogeridas pelos produtores associados e suas formas organizacionais.

3)      Abolição de todas as organizações burocráticas, incluindo as "representativas” (partidos políticos e sindicatos), pois com a autogestão generalizada, toda suposta forma de “representação” deixa de existir.

4)      Abolição de toda forma de produção mercantil e sua substituição pela produção de bens enquanto valores de uso, o que significa abolição do trabalho assalariado, do mercado, etc.

5)      Instauração da autogestão generalizada na sociedade através do modo de produção comunista fundado no processo de autogestão coletiva da produção.

6)      Constituição de coletivos de autogestão social em todas as instâncias da sociedade, desde o processo de produção e distribuição de riquezas, até a produção cultural, passando pelas outras atividades sociais necessárias.

Esses objetivos, para serem concretizados, são antecedidos por outros objetivos mais imediatos, a saber:

1)      Disseminar a hegemonia proletária através da luta cultural, o que inclui a crítica das ideologias, propaganda generalizada, atividades/publicações/materiais visando formação e autoformação dos trabalhadores;

2)      Apoio ao processo de auto-organização dos trabalhadores em geral;

3)      Atuação, sempre que possível e dentro das capacidades da ANT, nas lutas dos trabalhadores.

4)      Buscar aglutinar os setores sob hegemonia proletária mais combativos, conscientes e organizados da sociedade e generalizar a sua articulação e generalização através da ANT e outras formas de auto-organização.

5)      Combater as formas de divisionismo dos trabalhadores e realçar sempre a necessidade de união e apoiar as lutas pela superação das formas de opressão, desde que sob hegemonia proletária.

6)      Apoiar as reivindicações e exigências dos trabalhadores sempre que contribuírem com as lutas e com os interesses do proletariado e conjunto de trabalhadores.

7)      Disseminar, incentivar e apoiar movimentos grevistas em toda a sociedade, inclusive apontar para a greve geral nacional como objetivo e forma de luta constante dos trabalhadores.

8)      Incentivar iniciativas semelhantes em outros países e lugares, bem como apoiar as que se formarem, buscando uma articulação internacional.

No plano reivindicativo, um dos elementos fundamentais é a luta salarial. Sem dúvida, a luta salarial é uma reivindicação dentro do capitalismo e que não o coloca em questão e nem sempre contribui com a formação e politização dos trabalhadores. No entanto, a luta salarial é parte da luta de classes e coloca em confronto as duas classes sociais fundamentais, a classe capitalista e o proletariado. Assim, a luta salarial promove a luta operária, as primeiras formas de auto-organização, trazendo elementos de consciência e politização. As outras lutas reivindicativas dos trabalhadores também contribuem com isso em menor grau. A ANT, nesse sentido, deve apoiar a luta salarial e efetivar, ela mesma, uma luta nesse sentido para gerar organização e desenvolvimento da consciência, levando ao aumento dos setores mais avançados dos trabalhadores. A luta salarial, portanto, não é um objetivo em si mesmo, mas um meio estratégico de luta que gerando auto-organização, desenvolvimento da consciência, movimento grevista, faz a luta avançar e assim contribui com as lutas futuras. A luta por melhorias para os trabalhadores no interior do capitalismo, desde que seja uma política autônoma de classe, contribui em parte pela própria luta e por criar melhores condições para as lutas futuras. Isso quer dizer que as lutas reivindicativas geram experiências e avanços da organização e da consciência e, havendo conquistas, colocam os trabalhadores em melhores condições de ampliar sua formação e lutar mais eficazmente nos combates futuros. O movimento grevista e a ênfase nas greves localizadas e greve geral nacional são fundamentais nesse processo. As greves devem avançar no sentido de se tornar greve de ocupação ativa, caminho para o esboço da autogestão. A ANT, no entanto, não coloca tais lutas como algo isolado, objetivo em si mesmo, e sim num conjunto amplo de outras lutas e a partir de uma estratégia de luta, cujo objetivo final é a autogestão social, e que o faz sempre realizando a luta específica com a luta geral, o objetivo imediato com o objetivo final, sendo que unem estrategicamente lutas reivindicativas comuns, lutas que exigem reformas revolucionárias (inassimiláveis pelo capitalismo) e a luta pela realização do objetivo final, a autogestão social.

Estas são as propostas e objetivos da ANT, um instrumento de luta dos trabalhadores na luta pela hegemonia proletária e autogestão social.


COMUNICADO DA ANT 01: A CRISE DO GOVERNO DILMA E OS INTERESSES DOS TRABALHADORES

COMUNICADO DA ANT 01:

A CRISE DO GOVERNO DILMA E OS INTERESSES DOS TRABALHADORES

O governo Dilma vai cair? Essa é uma pergunta que circula em todo o Brasil e inquieta o cenário político institucional e parcelas da sociedade civil. Os partidos oposicionistas, os oligopólios dos meios de comunicação e grupos elitizados da sociedade civil pressionam pela queda do governo que vem aplicando ponto por ponto as políticas que estes mesmos grupos defendem: menor intervenção do Estado em políticas sociais substituindo por políticas voltadas exclusivamente para o livre mercado, ou seja, o Estado deve financiar basicamente empreendimentos individuais de enriquecimento.

O governo da Dilma aplica uma política nefasta para os trabalhadores: reduzindo o poder de compra do salário-mínimo; o governo Dilma coloca em prática um amplo quadro de cortes nas políticas sociais de saúde, educação, moradia e etc; o governo Dilma está preocupado em aperfeiçoar os instrumentos de repressão com a nova lei anti-terrorismo que vai dar base legal para prender manifestantes que fecham uma rua para justamente se manifestarem legitimamente; o governo retém o dinheiro dos trabalhadores para abrir novas linhas de créditos para recuperar empresas e indústrias que estão vendendo menos e para apoiar ainda mais a produção agropecuária que lança no mercado internacional os produtos que faltam à mesa do trabalhador brasileiro, tudo isto em meio ao ajuste fiscal que joga as contas do Estado e os riscos da atividade capitalista sobre os trabalhadores. Nessa situação, a pergunta fundamental para expressar os interesses dos trabalhadores é outra, muito diferente com a que aqui começamos. Irão conseguir os trabalhadores reverter os ataques monetários ao salário e às condições de vida?

Diante do cenário de ataque generalizado dos capitalistas e dos seus representantes no Estado, somente a auto-organização dos trabalhadores conseguirá enfrentar o dramático quadro social que se forma para romper mais uma costela da classe que carrega o mundo nas costas. Para contribuir com a estratégia de enfrentamento a Associação Nacional dos Trabalhadores surge para impulsionar a auto-organização proletária e lutar para barrar os ataques do governo que pioram as condições de vida da população trabalhadora. A nós não interessa a falsa questão do impeachment ou a troca de governos, exigimos benefícios para os trabalhadores e através dessa luta organizar para a transformação social. A ANT surge para contribuir com o enfrentamento contra os algozes que massacram as classes trabalhadoras. Nossos corpos e nossas vidas já não aguentam mais o receituário neoliberal enquanto morremos insossamente.


A auto-organização dos trabalhadores como alternativa para barrar os ataques significa a rejeição de todas as organizações burocráticas, quer sejam batizadas de partidos, sindicatos ou ONGs. A auto-organização recusa a divisão entre dirigentes e dirigidos e baseia-se na ação direta das classes trabalhadoras que rejeitam a ação dentro do parlamento (Congresso Nacional) e das instituições do Estado como forma de conquistar reivindicações imediatas que melhoram as condições de vida. A alternativa é a ação direta e organizada através da organização por local de trabalho, de moradia, de estudos, enfim, devemos nos organizar onde vivemos e expulsar os burocratas e capitalistas. Contra os cortes nos investimentos públicos e o ajuste fiscal o enfrentamento que devemos fazer é para valorizar o salário mínimo, com aumento de 50% no seu atual valor e redução da jornada de trabalho como forma de acabar com o desemprego e para que todos tenham condições mínimas de vida. Devemos aproveitar a fragilidade do governo para barrar o ajuste fiscal e os cortes nos gastos públicos, e o instrumento de luta é a auto-organização dos trabalhadores.

Rumo à Greve Geral!!!



Preparar a união dos trabalhadores, lutar pelos interesses dos trabalhadores, promover greves localizadas e caminha rumo à greve geral!!!

O Capitalismo (modo de produção capitalista)

Texto de formação 01:
O Capitalismo (modo de produção capitalista)


Por ANT

A palavra capitalismo possui dois significados básicos: como modo de produção e como sociedade. Podemos falar em capitalismo para nos referir ao modo de produção capitalista e como o conjunto das relações sociais que formam a sociedade moderna (e, nesse sentido, capitalismo e modernidade são sinônimos).

O elemento fundamental é o modo de produção capitalista. Esse modo de produção começa a se formar na Europa Ocidental e acaba paulatinamente substituindo o modo de produção feudal, baseado no trabalho servil. O modo de produção capitalista vai, a partir do século 16, se formando e expandindo, chegando ao século 19 como modo de produção dominante nos países europeus. Na segunda metade do século 20, ele é o modo de produção dominante em todo o planeta.

O modo de produção capitalista é caracterizado pela produção de mais-valor (palavra traduzida equivocadamente também como mais-valia). Esse é o segredo da exploração capitalista. O proprietário dos meios de produção (indivíduo ou grupo de capitalistas) compra as instalações, matérias-primas, máquinas, etc., e contrata trabalhadores (proletários) para produzir. Estes últimos, ao realizarem o ato da produção, não apenas repõem o valor gasto com os meios de produção, mas também como os seus salários, e ainda produzem um excedente. Esse excedente é o mais valor acrescentado às mercadorias. Os proletários vendem sua força de trabalho em troca de um salário, pois tudo no capitalismo vira mercadoria e quem não é capitalista para ser possuidor de dinheiro, se vê constrangido a trabalhar sob forma de assalariado para através dele sobreviver.

É o proletário, trabalhador assalariado que produz mais-valor, que gera uma nova mercadoria e um novo valor acrescido a elas. No entanto, é o capitalista que se apropria desse mais-valor e assim consegue suas rendas superiores e capital. Ele reinveste na produção, comprando mais meios de produção e contratando mais trabalhadores, aumenta a produção e o lucro e assim sucessivamente. Por isso, os capitalistas vão concentrando e centralizando o capital, formando grandes oligopólios que dominam, inicialmente, o mercado nacional e, posteriormente, internacional. É nesse processo que se constitui as duas classes sociais fundamentais da sociedade capitalista: a classe capitalista (ou burguesia) e a classe operária (ou proletariado), os exploradores e os explorados. E é devido a esse processo de exploração que temos a luta entre essas duas classes sociais. A luta de classes entre essas duas classes se dá no processo de produção, com o controle capitalista sobre os trabalhadores e a resistência desses, nas lutas em torno do salário, entre diversos outros momentos.

Esse processo de exploração tem diversas outras consequências, características e processos envolvidos, incluindo o controle total dos trabalhadores no processo de produção visando aumentar a exploração com o aumento de produtividade e outros processos. Outros textos serão produzidos para explicar essas consequências e demais características do modo de produção capitalista, que é um modo de produção de mais-valor.

Resta entender o que é o capitalismo como forma de sociedade, ou seja, o que é a sociedade capitalista, o que será feito na continuação do presente texto.